Sem conseguir andar direito, homem com 230 kg luta por vaga para cirurgia
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Everaldo Lins
Alex Rodrigues dos Santos, 38 anos, só vai do sofá para a cama e para o banheiro por causa das limitações causadas por seu peso. Ele tenta cirurgia no SUS, mas está na fila
Cama, sofá e banheiro. Há quatro anos essa é a rotina diária de Alex Rodrigues dos Santos, 38 anos, morador do município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), que não consegue mais se locomover por conta do peso de 230 kg.
Sem condições de pagar pela cirurgia de redução de estômago, o ex-agente de portaria não consegue autorização para realizar o procedimento nos hospitais públicos do Estado.
A obesidade mórbida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma epidemia mundial. Na Bahia, há 90 mil obesos mórbidos. De acordo com o IBGE, 15% da população da capital baiana é obesa.
Trauma desencadeou doença
Ele relata que começou a engordar há cerca de 11 anos, desde que entrou em depressão com a morte do irmão. "Tenho 1,70m e meu peso normal era 90 kg. Faz quatro anos que eu não saio de casa. Quero minha vida de volta.", lamenta.
Por causa do excesso de peso, Alex conta que desenvolveu pressão alta e passou a lidar com fortes dores nas costas e nas pernas, insuficiência respiratória, arritmia cardíaca, apneia do sono e hipertensão, além do aparecimento de furúnculos e escaras causados por falta de locomoção.
Os problemas de saúde exigem que ele faça uso de diversos medicamentos. "Os remédios para pressão eu pego no posto de saúde de Jauá, mas ultimamente estão todos em falta na unidade".
Desempregado, ele conta que não tem condições de arcar com todos os custos, pois sustenta esposa, quatro filhos e um neto com apenas R$ 800 do auxílio-doença.
O ex-agente de portaria conta com a ajuda de amigos e vizinhos para sobreviver. "Sempre sustentei minha família com meu trabalho e preciso voltar a ter dignidade", desabafa.
Em Salvador, apenas três hospitais – o Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas), o Roberto Santos e o Espanhol, realizam este tipo de cirurgia pela rede pública.
Frustração
Em outubro de 2010, após ter seu drama veiculado em um programa de TV local, Alex conseguiu iniciar o tratamento em um hospital da rede particular, na capital baiana.
Ele foi atendido pela equipe do cirurgião bariátrico João Ettinger, que afirma que o então paciente chegou a perder 20 kg dos 50 kg necessários para realizar o procedimento cirúrgico, mas foi reprovado na avaliação psicológica e nutricional.
Ettinger conta que apesar do hospital não realizar atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Alex não precisaria arcar com os custos do tratamento. "Consegui todo o material gratuito para a laparoscopia, mas infelizmente a psicóloga avaliou que ele não estava em condições de realizar a cirurgia por não seguir a dieta e por não tomar a medicação necessária.", lamenta. O hospital não retornou ao pedido de mais detalhes sobre os problemas e qual solução seria a mais adequada para o caso.
De acordo com Lilian Cardoso, presidente da Afab, entidade que realiza ações voluntárias de apoio nas marcações de exames e cirurgias para pacientes carentes no Estado, o caso foi encaminhado ao Centro de Referência Estadual para Assistência ao Diabetes e Endocrinologia (Cedeba), que acionou o Hospital Geral Roberto Santos, mas segundo a direção não há previsão de atendimento por conta da longa fila de espera. Segundo ela, uma advogada tentará interceder pela via judicial.