Traficante Chorrão ordenou toque de recolher no Nordeste de Amaralina, diz polícia
Bandido gerencia o tráfico de drogas no Boqueirão, um dos centros de distribuição da facção Comando da Paz (CP))
Um traficante identificado como Chorrão foi quem comandou o toque de recolher nos bairros de Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e parte da Chapada do Rio Vermelho, de acordo com informações da Polícia Militar. O bandido, que nunca foi preso, também é o responsável por ordenar comparsas a atearem fogo em um ônibus no Vale das Pedrinhas nesta terça-feira (1º).
A informação é do capitão Themístocles Porto, subcomandante da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar (Nordeste de Amaralina). “Ele é o chefe da quadrilha que atua na Rua Emídio Pio, na Santa Cruz, (na região) conhecida como Boqueirão”, declarou.
Ainda conforme o capitão, Chorrão gerencia o tráfico de drogas no Boqueirão, um dos centros de distribuição da facção Comando da Paz (CP). Ele deve obediência ao traficante Joseval Bandeira, o Val Bandeira, que está preso no Presídio Federal de Catanduvas (PR) desde 2013, e é o segundo do escalão da facção na região. O líder do bando, que atua em diversas regiões da cidade como IAPI, Bairro da Paz e Engomadeira, é Cláudio Eduardo Campanha da Silva, o Cláudio Campanha, que também cumpre pena em Catanduvas desde 2013. Tanto Bandeira como Campanha foram transferidos do Complexo Penitenciário da Mata Escura após comandarem uma série de ataques a ônibus e módulos policiais em Salvador, há dois anos.
“Chorrão não fica no Boqueirão. Quando vai lá, é para fazer a coleta do dinheiro ou para dar algumas ordens. Ele sempre vem com um bonde, com homens armados de fuzis. Nossas guarnições já entraram em confronto com eles algumas vezes, mas não conseguimos pegá-lo porque Chorrão é muito bem articulado, tem informantes espalhados por todos os cantos”, comentou o capitão. Porto destaca ainda que Chorrão é tido no meio policial como “tiro surdo” – gíria que se refere ao bandido que ainda não foi preso.
Vídeos
De acordo com o capitão Themístocles Porto, a polícia tomou conhecimento da existência de Chorrão após a circulação de dois vídeos na internet. O mais recente, que vem circulando há cerda de duas semanas nas redes sociais, mostra a execução de um homem, ainda não identificado, mas que seria de um grupo rival.
Já o segundo vídeo, que circulou em maio, tinha integrantes da facção exibindo pistolas e metralhadoras. “Nosso serviço de inteligência descobriu que todos os envolvidos trabalham para Chorrão, que também é conhecido como Coroa. Então, começamos a fechar o cerco à quadrilha, fazendo incursões constantemente, que por sua vez reage a tiros”, explicou o capitão.
Operação
Nesta terça-feira, uma operação na área do Nordeste de Amaralina contou com 24 guarnições, das quais quatro eram da 40ª CIMP – as demais eram unidades da Polícia Militar como Rondesp e Garra. Elas foram espalhadas por vários pontos da região que abrange quatro bairros, que fica bem ao lado do Parque da Cidade. “A área é muito grande. Quando colocamos um efetivo aparentemente grande numa região imensa como esta, o número de policiais é pequeno”, explicou o capitão Porto ao CORREIO.
Segundo ele, em determinado trecho do Boqueirão, uma equipe da 40ª CIPM, ocupada por policiais do Serviço de Inteligência (SI) – oficiais que trabalham sem fardas – foi surpreendida por cinco homens armados. “Os bandidos atiraram e correram para os becos, onde a topografia os beneficiam”, disse o capitão.
Baleados
O capitão Porto também afirma que os policiais trocaram tiros com os bandidos, mas acabaram recuando quando ficaram cientes de uma mulher atingida. Era Lilian de Jesus dos Santos, 39 anos, baleada no abdômen e braço esquerdo quando estava na casa da ex-cunhada, em frente a um campo de futebol, na Rua Emídio Pio.
“Eles (PMs) ficaram sabendo quando a mulher já tinha sido socorrida por populares. Então, os policiais retornaram à companhia e apresentaram suas armas – três pistolas e uma submetralhadora –, que foram encaminhadas para a Corregedoria, além de um revólver e certa quantidade de cocaína e maconha dispensadas na fuga pelos bandidos”, contou o capitão.
Lilian chegou a ser internada no Hospital Geral do Estado (HGE), passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos. Quando os policiais eram encaminhados à Corregedoria da Polícia Militar, o subcomandante foi informado de que três crianças foram também feridas durante o confronto. No entanto, ele acredita que os tiros que atingiram duas meninas e um menino não partiram das armas dos PMs. “Os policiais não invadiram as casas. Pelo contrário, quem invadiu foram os traficantes”, declarou. As crianças, de 5, 6 e 9 anos, foram baleadas na rua, quando voltavam da creche.
Questionado sobre os tiros que mataram Lilian, o subcomandante respondeu: “Só a perícia vai dizer. Por isso que as armas dos policiais foram recolhidas”, finalizou